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Marco Prado: “A violência homofóbica é cotidiana e invisível”

CENTRO DE ESTUDOS EM REPARAÇÃO PSÍQUICA DE SANTA CATARINA - CERP-SC
​BOLETIM INFORMATIVO N.13
A homofobia é um sistema complexo de violências e humilhações, reproduzidas à exaustão em nossas práticas cotidianas e, na maior parte das vezes, invisibilizadas.
 
“São violências que não aparecem como violência. Quando são nomeadas, são nomeações muito estereotipadas ou reduzidas”, explica Marco Aurélio Máximo Prado, professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisador no NUH (Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT).
 
Foi este sistema de violências cotidianas e invisíveis que Prado procurou desvelar ao longo de sua aula para o curso “Como lidar com os efeitos psicossociais da violência?”, promovido pelo CERP-SC em Florianópolis.
“Quando pensamos em violência homofóbica, pensamos naquele cara da Avenida Paulista que tomou uma ‘lampadada’ na cabeça”, lembra Marco. “Só que aquilo não é representativo do que é a violência contra a população LGBT”.
 
GÊNERO, SEXUALIDADE, CORPO E PRAZER
 
Apesar de serem elementos distintos e que, em si mesmos, não possuem qualquer característica que os condicionem mutuamente, gênero, sexualidade, corpo e prazer costumam ser percebidos como se fossem dotados de um modo de articulação natural.
 
“Supõe-se que um corpo que tem pinto é masculino, é heterossexual e é complementar a um corpo que tem vagina”, lembra Marco.
Assista aqui à aula completa do professor Marco Aurélio Máximo Prado.
“Isso foi construído historicamente por discursos religiosos, científicos, jurídicos, econômicos, biomédicos, pela ideia de parentalidade, família, reprodução”.

​
Segundo o psicólogo, é necessário que nos esforcemos para tensionar e separar estes elementos, mostrando que sua fusão é um produto histórico e que eles não constituem um bloco monolítico.
 
“Esses elementos, que são soltos, são no entanto percebidos como se tivessem alguma característica interna que fizesse com que um implicasse automaticamente o outro”, diz. “Mas essa junção não é natural, é histórica”.
 
Nossa sexualidade e nosso prazer, explica o palestrante, são parametrizados por determinadas normas e convenções sociais, tais como formas de se vestir e de se apresentar.
 
Sendo assim, “não existe nenhum atributo do gênero feminino que o condicione a ser expresso necessariamente por um corpo que tem vagina”. O palestrante exemplifica: “Quem vem dar palestra hoje? O Marco. Você pensa: “ah, então é homem”. Você também costuma pressupor que eu sou heterossexual e que tenho um pinto”.
 
Ocorre que existem mais formas de articulação entre gênero, sexualidade, corpo e prazer do que prescreve a convenção social disponível a uma dada cultura. “Ora, poderia ser Marco, mas feminino, bissexual e ter vagina”.
 
A FORCLUSÃO DA NORMA
 
Mesmo sendo fruto de uma criação histórica, esse conjunto de normas não se expressa como sendo histórico.
 
“Esse é o truque da norma. A convenção social não aparece como histórica para a gente. É o que a gente chama de forclusão da norma”, explica o professor.
 
“Ninguém aprende o que é ser homem estudando a construção da masculinidade no século XVII”, conta. “Você aprende na espontaneidade da vida cotidiana, ouvindo: isso pode, isso não pode, chora, não chora, o pai curte isso, o pai não curte aquilo, vamos brincar de jogar isso e não de jogar aquilo”.
 
Trata-se, segundo Prado, de uma série de convocatórias feitas a todos os sujeitos, com o intuito de “lembrá-lo” da existência de uma suposta coerência entre aqueles termos.
 
“Todo mundo lembra o saco que é ser jovem, chegar numa festinha e ouvir: "você já tem namorado?". Essa conversação, essa discurseira sobre sexualidade, corpo e gênero são as convocatórias”, explica. “Nós precisamos lembrar a pessoa, ela precisa entender que há uma suposta coerência nesse negócio. É como se dissesse: ‘isso aqui não é bagunça, não é assim!’”.
 
HIERARQUIA E RECONHECIMENTO
 
Além da historicidade e da forclusão da norma, há outros dois conceitos fundamentais para entendermos o modo de articulação entre gênero, corpo, sexualidade e prazer: são as noções de hierarquia e de reconhecimento.
 
“Esse campo das normas de gênero é bastante hierarquizado, dá-se mais ou menos valor para cada forma de expressão”, diz Prado. Homens e mulheres, heterossexuais e homossexuais, transexuais e travestis, dentre outros, ocuparão posições distintas nesta escala hierárquica.
 
O paradoxo, afirma Marco, é que esse conjunto de normas é também uma forma de reconhecimento do outro. “Quando eu digo: você é uma mulher linda, isso é uma forma de reconhecimento”.
 
Assim, ao mesmo tempo em que limita a nossa percepção, este campo normativo cria, segundo Prado, uma “ideia de comum” entre nós.
 
“Esse campo de convenções é, portanto, paradoxal. Ao mesmo tempo em que ele cria essa hierarquia, ele é também uma fonte de reconhecimento, ele é uma forma de dizer ‘você existe, eu te reconheço como sujeito’”
​TRAJETÓRIAS QUE TORNAM VISÍVEL O INVISÍVEL
 
Pessoas cujas trajetórias não expressam aquela expectativa social de coerência entre corpo, gênero, sexualidade e prazer acabam por evidenciar a história forcluída. Ou seja: eles tornam visível a historicidade desta construção discursiva que supõe a existência de uma coerência entre os termos.
 
E, por não expressarem esta coerência, estas pessoas serão relembradas o tempo todo de que ela existe.
 
“E serão relembradas por quem? Por instituições, pela ciência, por profissionais”, conta Marco. “A primeira coisa que a professora faz, quando tem um aluno que ela acha que é um pouco "bichinha", é chamar a família e indicar um psicólogo”.
 
Deste modo, convoca-se um representante da instituição da família e um representante da prática biomédica. “Vamos lembrar essa criança que tem um esforço aí a ser feito”.
 
Trata-se, assim, de uma violenta tentativa de adaptação que, entretanto, faz-se passar por uma forma de tratamento, de “ortopedia básica” da sexualidade.
“Se você chamar uma pessoa transexual para te contar sobre a experiência dela nos consultórios de psicologia, ela vai te contar sobre uma prática de violência enorme”, conta Marco.

“Ela foi arrastada desde pequena para médicos, psicólogos, endocrinologistas etc. Só que a gente não chama isso de violência, chama de cuidado”.

 
Esta invisibilização constitui, por sua vez, uma segunda violência, que tenta condenar esta pessoa ao silêncio e ao não-reconhecimento de sua trajetória de vida.
 
“O que está sendo dito é: você não existe. Essa confusão que você é não existe, você é uma forma de patologia que deve ser tratada.”
 
É por isso, insiste Prado, que a famosa “lampadada” desferida na avenida Paulista é só a ponta de um iceberg muito maior.

“O sujeito paga pedágio com cirurgia, terapia, cuidado, tratamento. Esse sistema de humilhações é uma violência invisível”.

Violência que pode perdurar até para além da vida da pessoa.

Memorial de Travestis e Transexuais de BH
"Vídeo produzido para a homenagem "Lembranças, Respeito e Dignidade: Travestis e Transexuais", em Belo Horizonte. Depoimentos que contam a trajetória de travestis e transexuais que fizeram e fazem a sua história em Belo Horizonte. Um mosaico de vidas e sonhos que lança luz sobre realidades desconhecidas e nem sequer imaginadas pelo grande público." (Fonte: Youtube)

​“Outro dia eu vi um laudo do IML (Instituto Médico Legal) descrevendo o corpo da travesti. Estava escrito: tórax com 3 kg de silicone. Ora, o que é isso para a gente? Isso é mama, é seio, peito, peitão”, diz. “Mesmo morto, aquele corpo não tem o reconhecimento de sua lógica de gênero”.
 
RECONHECIMENTO COMO COMBATE À VIOLÊNCIA
 
Para Marco Prado, as ações de reconhecimento e promoção de direitos de minorias são também ações de combate à violência.
 
“Quando a professora na sala de aula reconhece seu aluno trans, quando ela atende o pedido dele de ser chamado de "Marco" e não de "Zuleica", ela não está só reconhecendo ele”, diz.
 
“Ela está dizendo para todos os outros alunos, de modo indireto: ‘nesse cara aí, você não pode bater no recreio. Esse cara aí é igual a vocês. Esse cara aí tem direitos e também merece o nosso respeito”.
 
No Brasil, diz Marco, foram os movimentos sociais os pioneiros nesta luta por reconhecimento da população LGBT. Graças a eles, afirma, gênero e sexualidade foram gradativamente saindo do campo da patologia para serem arrastados ao campo dos direitos humanos.
 
“Isso foi feito por esses atores a partir de falas públicas sobre isso”. Falas que, a exemplo das paradas LGBTs, podem ser compostas não por palavras, mas por atos. “A parada é o dia de falar publicamente sobre isso. E essa fala pública não precisa ser um discurso. Pode ser um beijo na boca, que é muito melhor!”.
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As demonstrações públicas de afeto são percebidas e valoradas de modo diferente, lembra o palestrante, conforme a sexualidade dos sujeitos.
 
“Um casal lésbico no restaurante, comemorando um noivado e dando um beijinho, vira quase uma cena de motel, uma maluquice”, afirma. “Mas um casal hétero fazendo a mesma coisa é romântico”.

​E é por este motivo, diz o professor, que a forma festiva da parada LGBT constitui um ato político de grande potência. “Essas pessoas estão se beijando na boca por isso: porque elas precisam dizer publicamente que há legitimidade nesse beijo”. 
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